quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Exame do mínimo

João Guilherme Vargas Netto*

A revista Exame, de 27 de janeiro, publicou uma grande matéria sobre o salário mínimo demonstrando como a política de aumento acima da inflação nos últimos anos o fez atingir o maior patamar da história aumentando o consumo dos trabalhadores e aposentados pobres.

Além do gráfico que ilustra a evolução do salário mínimo e indica que o valor de R$ 510 vigentes é o mais alto desde 1940, a reportagem indica quantas cestas básicas é possível comprar com ele (0,97 em janeiro/2003 e 1,81 em jan/2010, por exemplo).

Estes ganhos são diretamente apropriados por 26 milhões de pessoas, entre trabalhadores da ativa (8,7 milhões) e aposentados (17,2 milhões), segundo a revista.

Imediatamente após a matéria há a coluna de J.R. Guzzo, diretor editorial da revista, com o sugestivo título "a razão, afinal, venceu".

O jornalista escreve, com todas as letras, que "durante décadas ouvimos dizer que os salários não poderiam aumentar sem trazer o caos na economia. Mas eis que o valor do mínimo bate recorde e a inflação só cai".

Mesmo comentando que um mínimo de R$ 510 (US$ 300) é equivalente a 1/6 do mínimo legal vigente nas principais economias da Europa, Guzzo afirma que "o problema, enfim, está sendo resolvido. Já é um feito a comemorar".

A única grande falha da reportagem e da coluna é que se comemora o milagre, mas se omite o santo.

A unidade das centrais sindicais em torno do objetivo de aumentar o valor do mínimo e a persistência com que perseguiram este objetivo (ano passado, por exemplo, em fevereiro garantindo 12,05% de aumento em plena histeria da crise) não são reconhecidas.

E mereciam ter sido, dadas a qualidade da matéria e da coluna.

Os avanços do salário mínimo têm garantido as maiores vitórias sindicais dos trabalhadores brasileiros.

Alicerçados nas iniciativas positivas e anticíclicas do Governo e principalmente do presidente Lula, as centrais, assumindo o protagonismo da luta pelo salário mínimo confirmam seu grande papel social e uma concepção sindical generosa e não corporativa.

O salário mínimo é o piso salarial nacional de todos aqueles trabalhadores e aposentados que não participam ativamente da vida sindical, através de sindicatos de categorias organizadas e fortes, que têm pisos profissionais superiores ao mínimo.

Ao se orgulharem de seu papel na luta pelo mínimo, o "feito a comemorar", as centrais demonstram, na unidade, sua preocupação e atuação sociais amplas.

É hora de o Supremo Tribunal Federal reconhecer isto!

(*) Membro do corpo técnico do Diap, é consultor de diversas entidades sindicais em São Paulo

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